sexta-feira, 20 de julho de 2007

Limitação física e inclusão social

Há tempos imemoriais o ser humano se defronta com os mais diversos impedimentos à sua sobrevivência e evolução.Os obstáculos da natureza e a luta para dominar suas próprias paixões e vícios o mantém num combate permanente que muitas vezes acaba consumindo o mais e o melhor de suas energias e, pior, o conserva num estado no qual a possibilidade de mudança e desenvolvimento reduz-se praticamente a zero.

A combinação de um ambiente natural favorável com as infinitas possibilidades da nossa mente produz a condição perfeita para nossa inteligência vislumbrar as alturas e colorir a vida com seu admirável florescimento. Foi assim que a Grécia, país de clima ameno e ambiente agradável, encontrando em seus habitantes semente digna de germinar em seu solo, viu a criatividade da nossa espécie desabrochar numa cultura hoje considerada clássica.

As limitações sempre constituíram um Desafio para a nossa mente. Das abissais do Oceano às alturas da atmosfera terrestre, nada freou o homem em sua necessidade de escancarar os limites e desbravar o Desconhecido.

No âmbito mais imediato, a limitação nos marca de forma bem contundente. Isso ocorre quando, além dos obstáculos naturais, nos vemos forçados a enfrentar também as inevitáveis limitações do nosso corpo; é o que se convencionou chamar “deficiência física”.

Embora advenha do termo déficit, de significado meramente quantitativo, não há dúvida de que ela soa como verdadeira afronta para muitas pessoas, já que qualifica o indivíduo com base em sua carência mais evidente. É assim que um ser humano é classificado como “feio”, “gordo”, “burro”, ou “deficiente”.

Embora muitas vezes oriundas de uma personalidade tristemente falha, inúmeras deficiências humanas daí resultantes não são consideradas como tais, pelo simples fato de estes defeitos de caráter não virem acompanhados de sinais físicos evidentes da sua existência.

É por isso que noções como a mentira, a trapaça, a megalomania, loucura e vícios de toda sorte não são considerados deficiências - sendo, aliás, muitas vezes até louvados como “ordem natural das coisas” ou “necessários para um funcionamento sadio da sociedade...”

Assim como os limites da Terra levaram o homem ao desbravamento das fronteiras,os limites do corpo também oferecem Desafio semelhante. Num estado de espírito assim, a importância dos sinais físicos evidentes em nossa vida se transforma na vívida realidade de uma miragem.


Quando tais limites se apresentam na forma de uma forte privação sensorial, como na surdez, a sua própria natureza relativa pode nos proporcionar a chance de canalizarmos nossos talentos para potencialidades muitas vezes ignoradas por nós mesmos.

O segredo desta transubstanciação é operarmos uma imprescindível mudança de ponto de vista, de forma a percebermos nossas limitações não mais como obstáculos e sim oportunidades.

Vivemos numa época em que a Beleza está sendo governada por um triste regime de exceção, no qual os padrões vigentes não admitem e muitas vezes até abominam o que é considerado “diferente” pelo senso comum.

Não deixa de ser notável o fato de que, ao mesmo tempo,um movimento nascente toma forma para reagir contra tais imposições e, passando a tratar o ser humano em sua totalidade, procura formas de estimular as pessoas a superar suas deficiências e serem úteis à sociedade. Ao mesmo tempo que lhes devolve a auto-estima e a chance de exercer uma profissão, mostra que estes seres especiais também possuem uma admirável criatividade a ser explorada e muitas vezes podem até servir de exemplo...

É a atualmente tão comentada inclusão social.

A campanha da fraternidade deste ano (2006), com o lema “Fraternidade e pessoas com deficiência” e a lei de Cotas, que prevê certa porcentagem de vagas para portadores de necessidades especiais em empresas com mais de 100 funcionários são provas de que a sociedade começa finalmente a agir neste sentido.

No entanto, é ingênuo acreditar que a inclusão social virá como um presente; ela será sempre uma conquista, e como tal, exigirá uma boa dose de suor e, infelizmente, sofrimento. Só assim a pessoa poderá se realizar e conquistar seu lugar no mundo.

Mas, para tanto, é necessário que o indivíduo em questão decida primeiro abandonar certos “préconceitos” e passe a explorar as suas próprias potencialidades com confiança, pois é inútil dar oportunidades a quem usa suas limitações como desculpas, quando poderia muito bem utilizá-las como um estímulo para vencer....

Isso trás à tona esta verdade: sem amor-próprio não há solução.

Por outro lado, se lembramos que o número de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil chega a 25 milhões, se percebe urgente a necessidade de lhes fornecer oportunidades. E de respeito também, mas o respeito não vem simplesmente voando em nossa direção: a gente tem que merecê-lo.

Isso não significa que podemos simplesmente ignorar os direitos básicos destas pessoas, pois pequenos atos do cotidiano, como não ocupar vagas de estacionamento reservadas, dar preferência no atendimento em estabelecimentos comerciais e tantas outras formas de solidariedade podem fazer uma enorme diferença.

A inclusão social é um movimento positivo e deverá produzir frutos notáveis em todas as áreas da atuação humana, bem como nas artes, no esporte e em inúmeros outros ramos do conhecimento.



Publicado no site www.dicionariolibras.com.br
16/11/2006

2 Comentários:

Às 20 de julho de 2007 às 12:50 , Blogger El Torero disse...

Belo texto...muito bem escrito, bem "amarrado", e segue a luta...hasta la vitória, siempre!!!

 
Às 20 de novembro de 2009 às 19:56 , Anonymous Anônimo disse...

Aprendi muito

 

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