Desmistificando a Deficiência
Aos 22 anos, Luciana Scotti, formada em Farmácia pela USP, era uma jovem como tantas outras: saía com os amigos, amava a vida e fazia planos para o futuro. Certo dia sentiu um mal-estar; segundos depois caía desfalecida. Levada inconsciente para o pronto socorro, ficou dois meses em coma, e sobreviveu por milagre. O diagnóstico: Acidente Vascular Cerebral. Só quando conseguiu recuperar a consciência ela compreendeu o tremendo golpe que a vida havia lhe reservado: subitamente muda, paraplégica e conseguindo movimentar apenas um dedo da mão esquerda, ela se viu diante de um desafio cruel.
Poucas pessoas teriam a força e a coragem que Luciana demonstrou: após meses lutando contra a depressão, ela finalmente reagiu e então tomou a assombrosa decisão de manter acesa a chama de seus sonhos. É realmente admirável o que ela tem realizado desde então: nove anos após o fatídico acidente que mudou sua vida, Luciana Scotti não só continua estudando, como já defendeu uma tese de mestrado, outra de doutorado (!) e já publicou quatro livros (um dos quais na 11ª edição). Ela está em pleno combate, continua saindo com os amigos e nos deixa, assim, sua maravilhosa lição de vida.
O grandioso exemplo de Luciana traz à tona o tema atualmente tão comentado da inclusão social. De maneira geral, muitas pessoas ainda têm uma visão deturpada da expressão deficiência física. Infelizmente, não são poucos os que pensam que a tal deficiência é sinônimo de defeito - quando na realidade, advém do termo déficit, que significa apenas perda, diminuição. Para muitos, uma diferença irrelevante. Será que é mesmo?
A primeira conseqüência desta visão medieval da limitação física é a destruição quase completa da auto-estima do ser humano. Se eu sou visto – aceito e permito que me tratem – como um ser defeituoso, fica bem fácil entender o preconceito e o baixíssimo número de pessoas com alguma deficiência que se vêem aptas a completar os estudos e entrar no mercado de trabalho...
O exemplo de Luciana é apenas um dos milhares de heróis anônimos que não se entregaram, continuam acreditando na vida e estão aí para nos lembrar desta verdade: mais que as físicas, as deficiências de pensamento são a verdadeira praga a ser combatida. E podem ser, caso não repelidas com vigor, o verdadeiro obstáculo à evolução humana - até (senão principalmente) das pessoas ditas normais...
Publicado no Jornal da Manhã, de Crciúma, em 30/03/2007.
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