terça-feira, 29 de julho de 2008

QUANDO A EXPERIÊNCIA FAZ A DIFERENÇA



Polliana faz parte de um raro grupo de audiologistas que é usuário de AASI


Existe, no Brasil, um seleto grupo de audiologistas que, por serem usuários de aparelhos auditivos, acabam tendo uma maior aproximação com os pacientes durante a prática terapêutica. A experiência pessoal com o AASI, de fato, revela tantas nuances do processo de adaptação auditiva que pode estar se tornando uma tendência entre os outros profissionais.

“Ser usuária de AASI”, diz a fonoaudióloga Polliana Capellini Saccon, “tem enorme influência na terapia e no entendimento com o paciente. Ele vê que eu estou bem, falo normalmente, sou ‘bem resolvida’, é possível acertar na adaptação, é possível o uso ser ‘confortável’...”. Pós-graduanda em audiologia clínica pelo Hospital AC Camargo e atualmente atendendo em clínicas de Laranjal e Tietê, no interior paulista, Polliana faz parte de um raro grupo de profissionais da área da reabilitação e mesmo da audiologia. Por ser uma das poucas fonoaudiólogas do país com perda auditiva bilateral e usuária da própria prótese que recomenda na prática clínica, ela tem mais facilidade para se pôr no lugar – e assim compreender melhor – os seus pacientes.



A audiologista Samira Camargo Baus:
"Usar aparelhos auditivos influencia de maneira positiva no processo de adaptação"


“Influência positiva”

Samira Camargo Baus, do Hermany Audiologic Instruments, de Florianópolis, também faz parte deste grupo. Usuária de aparelhos auditivos desde 2002, ela tem plena consciência de como o fato de ser adaptada otimizou sua prática terapêutica. “Isto influencia de maneira positiva no processo de adaptação com meus pacientes. O fato de eu ser uma jovem-adulta, usar aparelhos há anos e ter uma excelente adaptação e aceitação dos mesmos contribui para quebrar o estigma e preconceito de que próteses são para pessoas idosas e que é muito difícil de se adaptar aos aparelhos auditivos...” Ela dá um exemplo: “Um jovem tinha dificuldades em aceitar a perda auditiva e o uso dos aparelhos. Quando ele me conheceu, e soube que eu usava aparelhos auditivos, sentiu-se seguro para fazer perguntas (...). Hoje, além de ter tido sucesso na adaptação bilateral, este rapaz se apresenta como uma pessoa mais segura e confiante.” Ela garante que a sua experiência foi bastante válida não só para sua formação, como a de suas próprias colegas de classe. “ No período acadêmico, fui convidada a dar depoimentos para colegas de graduação. A relação da teoria com a prática foi muito proveitosa”. Apesar de ter consciência do seu diferencial, ela está sempre se aprimorando. E dá um recado a outros profissionais: “No caso do fonoaudiólogo atuar com aparelhos auditivos, minha recomendação é atualizar-se técnico-cientificamente. Isto é o que tenho procurado fazer, pois as mudanças tecnológicas nessa área são muito rápidas.”
De fato, um universo em constante mutação – e não só da tecnologia. Seja pelo imperativo de conhecer melhor o produto, seja pela necessidade prática de vivenciar a experiência de seus pacientes, alguns audiologistas, não satisfeitos em apenas ´escutar´ o acessório, estão tentando novas abordagens com o aparelho auditivo, a fim de ter uma experiência mais real e próxima da de uma pessoa adaptada.
A experiência de usar a prótese mudou a abordagem profissional de Larissa

Testar o acessório em si mesma

Larissa Coutinho Fonseca, da clínica Limiar, de Porto Velho, é um deles. Por ter um irmão mais novo usuário de aparelho auditivo, ela acabou se habituando desde cedo com o universo da fonoaudiologia, e foi assim que se apaixonou pela área e decidiu seguir a profissão. Apesar de toda sua prática – tanto pessoal como profissional – e mesmo não tendo perda auditiva, ela resolveu dar um passo além: testar o acessório em si mesma. “Não gosto de usar o termo ‘deficiência auditiva’ e também não concordo quando a Fonoaudiologia tenta “clinicalizar” a surdez, como algo ruim que precisa ser curado. Conheço pessoas que usam aparelho auditivo que são tão ou mais brilhantes que muitas pessoas aparentemente sem nenhum problema. Foi por isso que me interessei imediatamente pelo livro Manual Bem-Humorado dos Privilegiados Auditivos. Ouvir a história do ponto de vista de alguém que sente na pele diariamente o que nós podemos apenas imaginar ou estudar em livros... Foi por causa dessa obra que um dia resolvi usar o aparelho um dia inteiro, desligado, para ver como era”. A experiência a marcou para sempre: “Ao usá-lo em mim mesma, percebi que pode ser uma experiência bastante incômoda! As pessoas ficam olhando, temerosas em dirigir a palavra a alguém que usa aparelho (...). Foi uma experiência única, porque cheguei ao fim do dia louca pra tirar ‘aquilo’ da orelha!” Ela aprendeu a ser mais flexível com seus pequenos pacientes: “Antes eu sempre obrigava minhas crianças a usarem o aparelho o tempo todo e não tirá-los de jeito nenhum... Resultado: elas arrancavam os aparelhos no primeiro deslize da mãe! Hoje, já não exijo que elas o usem o dia todo”.

Compreender melhor seus pacientes

Se as pessoas atendidas por este seleto grupo de fonoaudiólogas acabam tendo uma percepção mais realista do aparelho auditivo e encarando, dessa forma, de maneira mais positiva o processo de adaptação, talvez se possa tirar algumas lições desta experiência. Os profissionais que a conhecem, com efeito, acabaram compreendendo melhor seus pacientes, não só por experimentarem a amplificação sonora, mas também o desconforto associado à prótese e – igualmente importante – a inevitável sensação de estranheza causada pelo preconceito. Em outras palavras, adentraram de fato no muitas vezes intangível universo da pessoa com déficit auditivo.
Para a fonoaudióloga Sandra Braga, da Audibel, isso está se tornando uma tendência entre os profissionais, até porque “algumas queixas dos pacientes são relativas à qualidade do som e para tanto temos que avaliar o som escutando o aparelho”. Camila Quintino, da Starkey, concorda: “Eu trabalho muito com treinamento (...) e sempre recomendo escutar os aparelhos. Enfatizo sempre que, somente quando escutamos os aparelhos, entendemos realmente o que está acontecendo ou mudando, conforme alteramos os controles. Acredito que essa é a melhor forma de relacionar a teoria com a prática, ou seja, entender realmente as mudanças e funcionamento do circuito do aparelho auditivo. Na minha opinião isso se tornou mais claro desde que comecei a atuar com aparelhos auditivos, eu aprendi e aprendo melhor desta forma. Muitas ‘fonos’ do meu convívio fazem isso também.”

“É fácil falar, difícil é agir !”

De fato, nada como a própria experiência. Mas, ao que tudo indica, levará algum tempo para que os profissionais não-adaptados a vejam com mais naturalidade. Embora alguns temam, não sem razão, o risco de trauma causado pela amplificação sonora numa audição normal, a experiência de usar o aparelho auditivo merece ser conhecida, e é possível que venha a surpreender muitos audiologistas, fazendo-os pensar duas vezes antes de mandar uma criança em processo de adaptação usar a prótese o dia inteiro... Afinal, a teoria é uma coisa e a prática, outra. Como disse Polliana: É fácil falar, difícil é agir !”
Realmente. Como qualquer nova abordagem, esta também tem encontrado certa resistência, e a experiência de usar a prótese auditiva permanece desconhecida para muitos fonoaudiólogos. Seja como for, não resta dúvida de que os poucos que tiveram um contato mais a fundo com o aparelhinho auditivo tiraram preciosas lições da experiência. Como lembra Polliana: “Certa vez, uma criança viu que eu estava com o AASI e, por ela estar com uma otite, perguntou o que era aquilo nos meus ouvidos. Ela parecia confusa, mas quando eu respondi que era para ouvir melhor, ela imediatamente abriu um sorriso e pediu um igual pro pai... aquele momento foi realmente gratificante – inesquecível”.
Artigo publicado na revista Audio-Infos #10.

PRIVILEGIADO AUDITIVO

XI Seminário de Educação - Criciúma(SC)

Olá!

Em primeiro lugar, quero pedir desculpas aos amigos que às vezes vêm dar uma olhada aqui em meu humilde blog e não encontram nenhuma novidade. Como o caso do grande camarada, e, ao que parece, meu primeiro crítico, o grande Luciano 'El torero' Byscuíra. A verdade é que eu prefiro ficar quieto quando não há nada para falar, e com a escrita é a mesma coisa. Afinal, esse negócio de escrever e assinar embaixo é mais complicado do que parece... Mas chega de blá-blá-blá. As últimas correrias, para minha não menos humilde felicidade, renderam frutos novamente, e agora eu acabei de estrear uma coluna intitulada Privilegiado Auditivo, do jornal em Foco(veja matéria mais abaixo), o informativo bimestral do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da Universidade de São Paulo.
http://www.centrinho.usp.br/emfoco/file/foco_45/assim_somos1_45.html


A minha participação na Reatech também foi demais e o artigo "Surfando a Reatech 2008" foi publicado na mais recente edição da Revista Nacional de Reabilitação, que só é disponível por assinatura.Para quem se interessa pelo assunto, é bastante interessante, eu sou assinante e recomendo:
http://www.revistareacao.com/home.php


Recebi uma notícia de uma pedagoga recém-formada, a Aline, de Rio Bonito (RJ), uma simpatia só, é instrutora de Libras e trabalha com surdos. E ela está usando meu livro em seu trabalho de conclusão de curso, quer dizer, agora o Manual também alcançou o meio acadêmico... Como qualquer escritor, eu tive as fantasias mais loucas enquanto escrevia esse livro - mas esta eu juro que não tinha imaginado de jeito nenhum!E como a confirmar que o livro está mesmo adentrando neste território, fui convidado pela secretaria da Educação de Criciúma para participar do XI Seminário de Educação, que aconteceu "por coincidência" bem no Dia do Escritor, 25/07. Obrigado pela oportunidade!


E na última edição da Audio-Infos, saiu mais um artigo meu, intitulado "Quando a experiência faz a diferença", que faço questão de fazer um post só pra ele. Tá satisfeito com as novidades agora, Byscuíra?rsrsrsrrsrsrrs

Grande abraço!