O legado de Jesse Owens

Conta-se que, no longínquo ano de 1935, um atleta negro até então desconhecido chegava à cidade de Ann Arbor, Michigan (E.U.A) para competir num evento esportivo local. Seu nome: James Cleveland Owens. Seu sonho: os Jogos Olímpicos de Berlim, que se realizariam no ano seguinte. Para cúmulo do azar, ele havia machucado seriamente as costas ao escorregar da escada bem na véspera da disputa, e foi amparado pelos colegas de equipe que chegou à pista para disputar a prova mais nobre do atletismo – as
Apesar de já ter visto de tudo na TV, há pouco tempo atrás assisti uma notícia que me pôs estupefato. Um rapaz, desses de academia, insatisfeito que era com o próprio corpo, resolveu ‘turbinar’ os músculos, tomando alguns hormônios, chamados esteroides anabolizantes – para cavalos. Foi o seu fim, e a princípio me recusei a acreditar na veracidade de uma morte tão bizarra. Demorou um pouco, mas quando eu senti de fato a profundidade deste gesto, fiquei bastante contemplativo. Que triste espetáculo é a condição humana, pensei. Mas, depois (aquilo ficou comigo alguns dias), compreendi que somos todos como aquele jovem. Vivemos como se tudo nos faltasse, mas, se tivéssemos um só lapso de clareza de todas as possibilidades e faculdades que possuímos – minha nossa, escalaríamos o Everest a tempo de voltar para casa antes do jantar. Um velho ditado diz que não há nada mais silencioso do que um canhão carregado. Magnífico. Regra geral nós somos todos, sem o saber, verdadeiras bombas atômicas em potencial – infelizmente, ogivas nucleares que pensam e agem como balas de amendoim... Fazemos planos, esperando o dia em que tudo estará perfeito para finalmente pormos nossos projetos em execução – só para descobrirmos, quase sempre da maneira mais amarga, que este dia não existe. Naufragamos antes mesmo de partir...
Dia desses, precisei dirigir um velho automóvel (desconfio que pertenceu ao Henry Ford) – e a experiência, por absurda de simples, me marcou como metal incandescente: eu não só vi, de imediato, o quão bom era meu próprio carro (e como andava reclamando dele!), como compreendi, numa incrível reação em cadeia, de como estava tão bem nos outros setores da vida – saúde, família, amigos, trabalho – embora parecesse, até então, não ter me dado conta disso... Passaram-se os dias, vieram os problemas naturais do cotidiano e, claro, acabei voltando ao estado de rotina, como todo mundo. Mas uma coisa permaneceu: a sensação de que por mais que se conquiste, se enriqueça e que se percorra os caminhos do mundo atrás desta fugidia Felicidade, ela está lá, talvez nem tão escondida assim, num lugar sagrado, dentro de nós. Talvez só esperando um tombo na escada para se revelar... Ou uma volta no quarteirão num velho calhambeque. O que você acha, leitor?